Um mundo ‘cronicamente conectado’

A propagação de notícias e o amplo alcance das redes sociais têm gerado debates intensos sobre seus impactos na vida das pessoas, especialmente no que se refere à privacidade e à saúde mental. No documentário Eis os delírios do mundo conectado (2016), a terceira parte chamada O lado obscuro, apresenta o relato comovente da família de Nikki, jovem que teve sua intimidade exposta em redes sociais, e acabou se envolvendo propositalmente em um acidente que tirou sua própria vida. A exposição não consensual de fotos íntimas de Nikki mostra o malefício dessa distribuição em alto alcance.

A partir disso, é importante refletir sobre a forma que lidamos com nossa própria exposição nas redes. Nos dias atuais é comum negligência dos usuários – cerca de 90% das pessoas cronicamente conectadas – em não ler os termos de uso antes de aceitá-los, ignorando os caminhos que suas informações pessoais podem percorrer nas plataformas. De acordo com Coeckelberg, apesar das políticas estarem acessíveis para ler a qualquer momento, não há garantia de que os dados pessoais ali expostos não serão redirecionados por Inteligências Artificiais para uso próprio, por exemplo, como levantamento de dados.

Diante desse cenário, uma grande preocupação para a atual conjuntura brasileira é a capacidade que os seres humanos desenvolveram de se relacionar com a inteligência artificial (IA). De acordo com um estudo realizado pela Talk Inc, cerca de 60% dos usuários interagem de forma cordial com os chats e IA, como se estivessem falando com pessoas reais. Nesse ponto, quem vos fala entende a facilidade que é pedir por conselho e ajuda na resolução de problemas, mas não seria essa facilidade o ponto chave para tudo? A partir de que momento começamos a nos relacionar dessa forma com IA e a deixar de sair com amigos para contar as novidades?

Esse tipo de comportamento se intensifica quando observamos os dados do estudo, que apontam que 1 a cada 10 brasileiros usa os chats para desabafar e pedir conselhos, não limitando as palavras e sentimentos, confiando plenamente em uma ferramenta que não foi criada com esse intuito. E, mais uma vez, sou culpada para falar, porém não podemos deixar de notar a diferença de hoje para três anos atrás, onde uma simples pergunta não respondia as dúvidas colocadas por professores em nossa cabeça, era necessário uma busca extensa e comunicação ampla.

Essa mudança de comportamento nos leva a pensar em como diferentes faixas etárias são afetadas por essa realidade. Partamos da premissa de que, para pessoas jovens e adultos com o pensamento crítico previamente estabelecido, é muito difícil fazer a separação entre a maneira como idealizam esses ambientes e a realidade. E quando falamos de crianças e adolescentes? Nesses casos existe uma idealização maior, pois sua percepção de vida e mundo pode ser significativamente influenciada por essas experiências.

Por fim, é necessário destacar que, apesar da facilidade de recorrer a uma IA oferecer conforto imediato, precisamos considerar os riscos de uma dependência excessiva dessa ferramenta. É necessário cultivar o equilíbrio entre a tecnologia e as interações humanas genuínas, essenciais para o desenvolvimento saudável e para a manutenção dos laços afetivos que nos tornam seres humanos completos.

Renata Alves

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