Nesta sexta-feira (25), o Centro Cultural foi palco da terceira edição da Mostra Jornada Da Igualdade Racial, durante a mostra houve exibição do documentário “Perifa TGA”, além de exibições culturais e o bate-papo “Ações que promovem a Igualdade Racial e perspectivas”. Voltado para a discussão da igualdade social, a roda de conversa mediada pelo produtor cultural Alexandre Rolin.
Foto: Bruna Evelyn #ParaTodosVerem: A imagem exibe cinco pessoas sentadas lado a lado participando de uma roda de conversa na Mostra Jornada da Igualdade Racial. No meio, um homem usando camiseta branca e com tatuagens nos braços, fala ao microfone; à esquerda e à direita dele, os outros participantes escutam atentamente. O pano de fundo, é formado por cortinas vermelhas e uma iluminação
O bate-papo contou com as participações de Walter Cedro, coordenador de mapeamento do Pontão de Cultura e integrante da Teia Nacional, que ressaltou o valor das tradições populares como forma de resistência. Já Mestre Bicudo, presidente do Instituto Jogo de Bandiga de Capoeira, destacou que não é possível ensinar o esporte separando-o de suas origens africanas.
O estudante e participante do movimento estudantil, Irineu Marcelo, ressaltou que, diante do racismo estrutural e das desigualdades sociais, iniciativas isoladas acabam sendo insuficientes. Por isso, defendeu uma mobilização coletiva e solidária como caminho para alcançar a igualdade racial.
Jociane Santos, do Coletivo Mangueiras, fechou o debate lembrando a importância de abrir espaços de protagonismo para jovens mulheres negras, assim como de consolidar políticas públicas de direitos sexuais e reprodutivos. Ela ressaltou que, sem a voz dessas jovens, qualquer iniciativa em favor da igualdade racial ficará incompleta.
Recepção dos participantes e ouvintes
Como participante da roda e organizadora do evento, Mary Costa, diretora do Ponto de Cultura Flor do Mato Afro-Brasilidade, lembrou que a estrutura urbana de Tangará da Serra historicamente silencia os bairros mais distantes. Segundo ela, só quando seus moradores passarem a se identificar como parte ativa dos espaços é que surgirão verdadeiros movimentos de transformação social. Mary também destacou a importância desse debate para que ele ajude as pessoas a se perceberem como minorias: “A ideia do debate é fazer com que você comece a visualizar o seu entorno”.
Foto: Bruna Evelyn. #ParaTodosVerem: Na imagem, Mary Costa segura um microfone enquanto fala durante a roda de conversa da terceira edição da Mostra Jornada da Igualdade Racial. Ela veste uma blusa clara com estampas em vermelho e calça rosa.
Na plateia, a professora de Jornalismo Luiza Müller acompanhou todo o evento e pôde observar o desenrolar do bate-papo. Recém-chegada à cidade, falou sobre a grande expectativa que tinha para participar de seu primeiro evento cultural em Tangará da Serra, destacando a programação e a temática racial como extremamente importantes. Luiza também comentou que o documentário Perifa TGA é especialmente pertinente para a cidade, pois há bairros geograficamente espalhados e distantes, concluindo que a produção expressa a urgência de dar visibilidade aos artistas e moradores dessas regiões.
A professora também falou um pouco sobre seu ponto de vista envolvendo a temática racial em Tangará, debatida na roda de conversa, e comparou com sua cidade (Porto Alegre). “Essa urgência da temática racial é muito próxima do que a gente tem no Rio Grande do Sul, de onde eu venho, que é um estado com racismo estrutural muito enraizado e com alguns possíveis paralelos com o Mato Grosso.” Apesar das semelhanças, ela vê o Rio Grande do Sul como mais à frente nesse debate, já que o estado possui uma grande raiz de culturas africanas que buscam reconhecimento, enquanto o Mato Grosso está iniciando suas discussões.
Esse debate também vem sendo levado pela mostra às escolas, onde o público jovem está em fase de construção de sua identidade. Mary Costa explicou que, ao entrar em sala de aula, a roda de conversa revela o quanto muitos adolescentes sentem vergonha de serem negros, indígenas ou de morarem em bairros periféricos da cidade. “Quando você pergunta ‘onde você mora?’ e o estudante não fala que vive no Valência, é porque ele não se reconhece naquele espaço e, com isso, perde o sentimento de pertencimento”, observou. Para ela, promover esse autoconhecimento é essencial: somente a partir do pertencimento é possível defender coletivamente seus direitos.
Reportagem: Itallo Custódio e Maria Eduarda Barreto
Edição: Willian Matheus