
Josué Conceição de Carvalho é um dedicado praticante e professor de Karatê com quase
40 anos de experiência. Ao longo de sua carreira, ele não apenas aprimorou suas habilidades
nas artes marciais, mas também contribuiu significativamente para a formação de jovens e
adultos em sua comunidade. Nesta entrevista, Josué compartilha sua jornada no Karatê, suas
experiências como professor e a importância do esporte na vida das pessoas.
Kelvin: Como é que começou a sua história no Karatê?
Josué: Meu nome é Josué Conceição de Carvalho. Comecei praticando Karatê-do,
caminho das mãos vazias, quando tinha entre 15 e 16 anos. Este ano de 2024 vai completar 40
anos de treinamento.
Kelvin: Quando você começou como professor?
Josué: Eu comecei estagiando na faixa verde. Comecei já estagiando na academia que
eu praticava, na Associação Única de Karatê, com o Sensei Antônio Felipe da Silva. A partir da
faixa marrom, iniciei a dar aulas sozinho, mas com acompanhamento do professor. Depois da
faixa preta, continuamos a dar aulas, ainda com acompanhamento. Para dar aulas, é necessário
ter no mínimo 3º dan para você poder dar aula em qualquer lugar do Brasil e do mundo. Antes
disso, é preciso ter um diretor técnico que acompanha e assina por você.
Kelvin: O senhor atuou como professor no CRAS também. Como foi a experiência
dando aula no CRAS?
Josué: No CRAS, nós demos aula nos dois mandatos do prefeito Júlio César e também
nos dois mandatos de Fábio Martins Junqueira. Se somarmos, são quase 16 anos, cerca de 15
anos. Tanto no CRAS quanto no CREAS, a experiência é boa porque lá é um serviço de
convivência e fortalecimento de vínculos. Trabalhamos na proteção de crianças que necessitam
de orientação e direcionamento para formar cidadãos do futuro. Antes disso, também demos
aula em projetos sociais municipais, pela Secretaria de Esporte e Educação. Estamos fechando
quase 30 anos de projetos sociais em Tangará da Serra.
Kelvin: Qual a importância para os jovens em situação de risco, ali do CRAS, de
praticarem Karatê?
Josué: Ensinamos eles a serem cidadãos de bem, formando cidadãos de bem.
Ter patriotismo, civismo, disciplina, educação, companheirismo, amor pelo próximo, pela pátria,
um compromisso com os estudos, com o esporte, com a sociedade, respeito por todos, pela
sociedade, pelo Estado, pelo Brasil e pelo Universo.
Kelvin: Na sua vida, qual foi a mudança que o Karatê trouxe para você?
Josué: Na minha vida, o Karatê quebrou os paradigmas da timidez. Eu era muito tímido,
tinha vergonha até de ler na sala de aula. Era bom no colégio, tirava notas boas, mas tinha
vergonha. O Karatê, que eu simpatizei e gostei de praticar, me deixou desinibido para conversar,
palestrar, ir em rádio, televisão, apresentar trabalhos e projetos. Esse foi o paradigma que o
Karatê-do, que eu amo, superou. Também amo a parte física, mental e espiritual. O Karatê ajuda
a superar os altos e baixos que encontramos neste mundo terrestre. Temos altos e baixos e o
Karatê-do fortalece mentalmente, espiritualmente e filosoficamente. É isso, praticar artes
marciais.
Kelvin: Tem bastante jovens que praticam Karatê com o senhor. A questão da terceira
idade, você indica também o esporte?
Josué: Sim. Hoje, começamos a treinar desde os 5 anos, depende de cada criança, jovem
ou atleta. Ele é indicado para todas as idades, não tem limite de idade. O limite para iniciar é
bom entre 5 e 7 anos, quando já estão um pouco mais desenvolvidos. Mas o limite final não
existe. Pode treinar aos 50, 60, 70, 80 anos ou mais. No Japão, todos treinam e são muito bons.
Treinam como esporte e lazer. Não é necessário lutar. O mais importante no Karatê-do e nas
artes marciais é a parte física, mental e espiritual, não é ganhar medalhas ou troféus. Os graus e
faixas fazem parte, mas não são tudo. O mais importante é trabalhar a mente, o espírito, a alma
e o corpo. Mente forte, corpo são.
Kelvin: Onde o senhor atualmente dá aulas de Karatê?
Josué: Hoje, estou ministrando aula em um projeto voluntário, social e comunitário no
Tangará Tênis Clube (TTC) e na Academia Senhor Treinamento. Dou aulas lá desde o ano
passado, na Avenida Nilo Torres, na Academia de Musculação. Temos aulas todas as segundas
e quartas-feiras, a partir das 19h. No TTC, temos aulas todas as terças e quintas-feiras, das
18h30 às 20h.
Kelvin: Por que o senhor adota a política de não cobrar por suas aulas?
Josué: Nos sentimos lisonjeados. É um dever nosso servir, estamos aqui para ajudar. No
TTC, temos alunos que eram das oficinas de Karatê da Assistência Social e que hoje são
campeões brasileiros. Essa parte no Clube, TTC, é voluntária e social, sem custo.
Kelvin: Você consegue patrocínio com a Prefeitura ou ônibus quando vão participar de
campeonatos fora da cidade?
Josué: Em questões de ônibus, o Poder Público tem nos cedido. A Secretaria de Esporte
e Assistência Social tem colaborado conosco. Agora, patrocínio para desenvolver a arte no
Clube, isso não temos. O patrocínio vem do próprio professor, que patrocina as aulas. Se alguém
quiser patrocinar, colaborar com tatames, quimonos, viagens, ajudar os atletas, isso é muito
importante. Precisamos muito disso, especialmente para campeonatos fora do estado. O estado
às vezes banca a passagem, mas precisamos de apoio para inscrições e outras despesas. Aqueles
que quiserem ajudar estarão colaborando para o desenvolvimento dos atletas do projeto social,
voluntário e comunitário.
Kelvin: O senhor tem alguma mensagem para quem ainda está em dúvida sobre começar
ou não o Karatê?
Josué: Minha mensagem é a seguinte: o Karatê-do, caminho das mãos vazias, é vazio
de maldade, crueldade e perversidade. Não usamos armas, usamos as próprias mãos para nos
defender, é uma autodefesa. O Karatê-do nos traz confiança, alegria mental, física e espiritual.
Nos ajuda a vencer nos estudos, no trabalho, na família e a ser um cidadão de bem. Estamos
preparados para a guerra, mas não para lutar. O lema do Karatê-do e das artes marciais é treinar
para não brigar. Treinamos para ganhar companheiros e amigos. Convidamos todos que
queiram conhecer o Karatê-do a assistir a uma aula, fazer uma aula. Não é limitado só a lutas.
A pessoa passa por um teste físico, mental e psicológico antes de chegar à técnica e,
posteriormente, aos combates e katas. Não é só luta. Muitas pessoas ignoram isso, acham que
vão aprender a bater e brigar. Pelo contrário, quem treina artes marciais raramente briga, pois
conhecemos o perigo e sabemos que arrumar encrenca só traz prejuízo para todos, incluindo as
famílias e as pessoas envolvidas.
Kelvin Redator, Alessandra Repórter, Fabiane Editora, Tânia Revisão.