Um retrato imersivo: o espelho fotográfico na IV Semana de Jornalismo

Willian Garcia, fotógrafo de Tangará da Serra, transforma sua inspiração pessoal em arte, abordando a fotografia como um espelho imersivo da essência humana
Autofotografia de Willian Garcia. Foto: Willian Garcia

O fotógrafo Willian Garcia nasceu no dia 08 de novembro de 1991, em Tangará da Serra, Mato Grosso. Ele possui algumas vagas lembranças de sua infância, o pouco que se recorda são de registros fotográficos de aniversários dos seus primos. A sua família adveio de raízes humildes. Fotografias, naquela época, faziam parte de uma classe mais abastada, eram poucas as pessoas que possuíam condições de reproduzirem esse processo artístico.

Ele ressalta que a sua família não é uma família de artistas, e que não obteve influência em seu lar sobre o universo artístico nos seus diversos contextos; como, por exemplo, na música, no teatro, no ato de desenhar, ilustrar e pintar ou na fotografia. Não possuiu um espelho em casa, no qual pudesse se inspirar ou refletir sobre a arte. Apesar ter sido uma criança muito curiosa, no seu seio familiar não teve uma influência para se imaginar como o artista que se tornou atualmente.

Diante de seu primeiro contato com a fotografia, Willian relembra suas memórias afetivas, que o levam aos aniversários de seus primos. O ato de registrar fotos e observar as imagens estáticas nos álbuns era, para ele, algo inacreditável e até estranho, pois parecia distante da concepção da realidade. Era surpreendente pensar que aquele momento registrado já se encontrava no passado, enquanto as pessoas permaneciam nas fotos como se ainda estivessem ali vivendo aquele instante.

Willian menciona que, de alguma forma, olhar para aquela imagem era pensar que aquilo era inimaginável. Contudo, o fotógrafo afirma que o seu primeiro impacto visual fotográfico ocorreu na quinta série, na disciplina de história:

“Eu vi uma foto que me impactou de uma maneira que eu fiquei muito encantado, e eu busquei começar a entender sobre a história da fotografia, como a fotografia tem um impacto de mostrar algo que é incrível, seja ele de uma maneira trágica ou não. É uma fotografia que ficou reconhecida como ‘A menina da foto’. Que é a história de uma menina que ficou totalmente queimada por uma bomba que foi lançada no Vietnã.  Acredito que todos já devem ter visto essa fotografia, que é de uma criança correndo completamente nua, porque a bomba dizimou tudo o que havia no local e queimou todas as roupas da menina. A bomba do Napalm foi uma bomba química e a menina chama-se Kim Phuc, ela sobreviveu e isso é narrado em livros. A história mostra a deformidade que a bomba produziu no corpo dela por conta de ter sido queimada. Então, quando eu busquei entender sobre essa fotografia, eu fiquei encantado.”

Em 2010, Garcia iniciou sua carreira na fotografia após adquirir uma GE X550, sua primeira câmera, e realizar seu primeiro curso com o professor Fernando Tavares. A formação deu-lhe uma base técnica e dinâmica em conceitos fundamentais como ISO, abertura e velocidade. No entanto, a sua evolução profissional se tornou um longo processo, diante de uma adolescência conturbada, por seu envolvimento com drogas. Entre 2010 e 2018, Willian fotografou atuando como hobby, registrando eventos underground e festivais de rock em diversas cidades de Mato Grosso.

Mas foi em 2018 que sua carreira mudou ao ingressar em um curso no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), em Tangará da Serra, onde se aprofundou em técnicas de fotografia, vendas e iluminação. Ali, ele teve contato com outro mentor, Jean Claude, e foi inspirado por Ronaldo Nenê, do canal 35mm, que o ajudou a desenvolver um olhar mais apurado para iluminação. O período da pandemia foi crucial para seu aprimoramento, consolidando sua identidade como fotógrafo profissional e ampliando as suas habilidades artísticas.

Diante de sua atuação profissional, Willian, recentemente, participou da IV Semana de Jornalismo em Tangará da Serra, ministrando o workshop Saberes Sociais I: Retrato Criativo para os acadêmicos do curso de Jornalismo. Durante essa atividade, Willian apresentou seu conhecimento sobre a construção de retratos expressivos e técnicas de estúdio. O workshop abordou aspectos fundamentais, como o uso criativo de luz natural e artificial, o posicionamento dos modelos, e a importância de dominar equipamentos fotográficos, como flashes, refletores e softboxes.

Fotógrafo Willian Garcia ministra workshop ‘Saberes Sociais I: Retrato Criativo’, na IV Semana de Jornalismo, na Unemat de Tangará da Serra. Foto: Beatriz Tavares

O workshop enfatizou que o sucesso de um retrato vai além da técnica, envolvendo uma sensibilidade para compreender e transmitir a essência do indivíduo fotografado. Willian destacou a importância do diálogo entre fotógrafo e retratado, defendendo que o retrato é uma construção imersiva. Os participantes também tiveram a oportunidade de praticar a produção de instalação de iluminação, utilizando diferentes tipos de equipamentos para compreender como uma determinada luz pode moldar e transformar uma imagem, assim como realizar fotografias.

Além de ensinar aspectos técnicos, Willian incentiva os acadêmicos a desenvolverem um olhar autoral e criativo, demonstrando como a fotografia pode ser um meio de expressão pessoal e artística. O workshop foi fundamental para os futuros jornalistas, permitindo explorar a relação entre a imagem e a narrativa visual na comunicação contemporânea. Um outro aspecto a ser mencionado é que a sua atuação em fotojornalismo remete a uma apresentação original sobre trabalho profissional, em que o registro da essência da realidade se alia à narrativa visual.

Atualmente, Willian é especializado em retratos, casamentos e eventos, áreas que garantem maior retorno financeiro e estabilidade. Embora seja apaixonado por produções de fotografias em eventos noturnos, resolveu diminuir a sua presença devido ao cansaço dessas jornadas. Paralelamente, dedica parte de seu tempo a projetos sociais, como ensaios gratuitos para doadores de sangue e gestantes, fortalecendo sua conexão com a sociedade mediante à fotografia.

Para Willian Garcia, a fotografia é uma forma poderosa de expressão e transformação. Inspirado por autores como Susan Sontag e Henri Cartier-Bresson, busca capturar não apenas a beleza exterior, mas também a essência espiritual dos momentos e das pessoas. Entre seus objetivos, está a reabertura de um estúdio colaborativo e a realização de projetos inovadores, como sessões de fotografia envolvendo fogo, explorando novas fronteiras da arte visual. Com sua evolução contínua, Willian acredita que a fotografia possui um potencial transformador ao registrar memórias que revelam tanto o exterior quanto a essência interior dos indivíduos, como um espelho fotográfico tornando-se um retrato imersivo da existência humana.

Texto: Beatriz Tavares | Revisão: Ana Lúcia Andruchak | Diones Krinski | Edição: Cristiano Barreto

compartilhe

+ notícias

plugins premium WordPress