A vida acadêmica é um período estressante e desafiador, onde adolescentes recém formados do ensino médio passam pelo período de amadurecimento até a vida adulta, e essa fase pode ser ainda mais desafiadora quando se está passando por uma gestação e por todo o processo de maternidade.
Descobrir a gravidez durante o período acadêmico pode ser uma situação causadora de pânico para muitas mulheres que estão vivenciando o primeiro contato com uma vida profissional, como nos conta a entrevistada Franciane Trelha Pereira, formada em Enfermagem e que se tornou mãe durante sua passagem na faculdade: “O processo de descobrir a gravidez foi inesperado, realmente foi um susto, eu era bastante jovem na época, quando eu descobri gravidez eu estava com 22 anos, ganhei com 23. Tive sim dúvidas entre continuar a faculdade ou não na época eu trabalhava e estudava, e tive que optar por parar de trabalhar para continuar os estudos porque já é difícil conciliar o trabalho e o estudo imagina com uma gestão então optei por parar de trabalhar”.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), em 2023 cerca de 12% das 11 milhões de mulheres que cuidam de seus filhos sem companhia são universitárias. A maternidade pode vir de forma inesperada para a maioria delas, podendo acontecer durante o período da faculdade, e pensando nisso muitas das sedes universitárias hoje em dia tem em seu campus espaços reservados à maternidade e crianças visando evitar essa evasão universitária.
Não é o caso de Yasmin Loureiro Ribeiro, estudante de letras e estudante na Universidade do estado de Mato Grosso, que ressalta necessidade de haver um espaço no campus para acolhimento dessas mães e crianças: “Logo após a minha volta eu precisei fazer o aleitamento materno pela bombinha, a faculdade não disponibilizou nem salas para gente fazer isso de forma segura e higiênica, a gente tinha que ficar procurando uma sala ou outra pra ficar fazendo esse aleitamento e eu fico pensando como eu faria se eu tivesse que levar a minha filha. Não tem lugar para ela ficar, não tem lugar para mim ficar, e isso é a realidade de muitas mães que têm que levar seus filhos e aí fica algo cansativo tanto para essas crianças que estão indo quanto para as mães que precisam estudar”.
A universidade dispõe hoje do recurso do regime domiciliar que pode ser solicitado para gestantes a partir do oitavo mês de gravidez, podendo ser prorrogado ou antecipado desde que comprovado por atestado médico, e também para lactantes durante os seis meses de amamentação. Tudo isso está
Além disso, a dificuldade é maior quando o valor profissional e inteligência são questionados por conta da maternidade. Os julgamentos e pensamentos machistas podem afetar psicologicamente essas mães que já enfrentam uma rotina exaustiva.
“Algumas pessoas questionavam e perguntavam: você vai conseguir continuar? e agora tu vai parar de estudar? Então pessoas que não eram da minha família tinham esses questionamentos, eu até evitava conversar um pouco com certas pessoas quando estava grávida, me isolava as vezes um pouco, por que não queria escutar essas coisas sabe, esses questionamentos e olhares diferentes por parte de algumas pessoas, eu não costumo ser uma pessoas assim mas durante a gravidez por conta também da gente ficar mais sensível e por eu na época ser jovem eu procurava fugir um pouco desses questionamento que não faziam bem. Relata Franciane.
Áudio de Franciane relatando uma das experiências de julgamento que sofreu durante o período de gravidez na faculdade.
Não só colegas mas professores também podem cometer erros de julgamento com suas alunas, como foi o caso de Yasmin que afirma ter sentindo sua inteligência questionada ou desconsiderada de certa forma durante sua volta para a universidade após a gravidez: “Eu senti uma indiferença, hoje eu vejo que alguns professores quando vão se situar a mim para alguns trabalhos eles falam: “será que você vai dar conta? Por que tem a nenê né, e isso enfraquece um pouco o discurso igualitário de uma faculdade. Como eu quero uma faculdade igualitária sendo que eu tenho medo que uma mãe não vá dar conta de ler um artigo? Então eu senti um pouco que depois da maternidade a minha inteligência e o meu trabalho foi um pouco inotável, eu fazia fazia fazia e parece que eu não estava sendo vista, e um silenciamento muito grande de alguns professores que vão se direcionar a mim, falam e a neném? E é uma situação, é um discurso que me faz sentir um pouco incapacitada no momento como mulher e como acadêmica”.
Por mais que a evasão acadêmica das mulheres nas universidades ainda sejam em sua maioria por conta da maternidade ou vida profissional, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE em 2023 mostram que elas são as que representam os maiores índices nas faculdades conforme mostra o gráfico:

Antes e após a gravidez o auxílio psicológico para essas jovens mães que enfrentam uma demanda muito grande de desafios e adaptações se tornou algo a ser requisitado. Com o atendimento psicológico correto poderiam ser evitados desistências precoces do curso de jovens que descobrem e sem saber o que fazer, ou com quem falar desistem de tudo e se arrependem logo após. Além da possibilidade de tratar questões como a depressão pós parto e o acompanhamento durante o período de puerpério.

“Depois do nascimento que vem a fase mais complicada, que realmente muda toda a rotina da gente, antes eu cuidava de mim, das minhas coisas, dos meus afazeres, e quando vem uma criança tudo muda, você quase não tem tempo para si mesmo, e tem que priorizar a criança. É uma mistura de amor e cuidado, de ter aquele apego de querer sempre perto, sempre cuidando eu não confiava eu fiquei no início foi difícil o psicológico eu não confiava ninguém para cuidar da minha filha mas eu precisava eu não queria nem deixar com a minha mãe nos primeiros dias imagina, algo psicológico que a gente fica muito sensível psicologicamente mexe com os hormônios também com a rotina é fisiológico e psicológico também né, e para mim foi uma mudança bem brusca eu não confiava em ninguém não queria deixar meu nene com ninguem mas tinha que deixar tinha minhas coisas pra fazer também”. Conta Franciane sobre sua experiência de readaptação de volta à vida acadêmica após o parto.
A acadêmica Yasmin, também reforça a necessidade de uma atendimento psicológico no campus da Unemat de Tangará da Serra:“A faculdade não ofereceu nem o mínimo que uma psicóloga para essas mulheres e para essas gestantes, é algo que precisamos estar a par, como que eu vou querer que minha faculdade seja inclusiva sendo ela não dá o mimo? A faculdade não tem nem uma psicóloga pro campus imagina para as mulheres no processo gestatório. E depois ao sair para licença maternidade é um processo muito doloroso e pouco falado, ainda mais na vida acadêmica a gente se questiona muito como mulher e como profissional se a gente é merecedora daquela faculdade se a gente tem o conhecimento suficiente então acho que a faculdade faz ainda pouco caso com isso”.
Todos têm o direito à educação, e as mães têm o direito de uma vida acadêmica com respeito, harmonia e os mesmos direitos de qualquer outro aluno, cada vez mais elas têm conquistado espaços dentro do meio acadêmico encontrando e conquistando as oportunidades em conjunto com o aprendizado de se tornar uma mãe.
“Eu me sentia envergonhada e inclusive foi a coordenadora do meu curso a Marta que me ajudou, eu falei para ela: “olha eu to distante eu tô pensando em desistir do curso não sei como vai ser daqui pra frente”.E ela pegou na minha mão e disse: “Daqui para frente você não vai ser mais a Yasmin que vai se formar para ser professora e ter um futuro bom, você vai se formar para ser professora e a mãe dessa criança, para proporcionar um futuro melhor para ela”. Naquele momento eu vi que ao meu redor o discurso que tinha era de perseverança para não desistir naquele momento”.