Redação/Eronildo Lucas

FOTO: Eronildo Lucas
O grupo da terceira idade Viver Feliz, parte integrante do Programa de Fortalecimento de Veículos da Secretaria Municipal de Assistência Social de Nova Olímpia-MT, reúne 196 idosos cadastrados que se encontram semanalmente às quintas-feiras para participar de diversas atividades manuais, como dança, ginástica, crochê e tricô. Com a maioria dos participantes originários do Nordeste e todos com mais de 60 anos, os encontros não apenas promovem o bem-estar físico, mas também fortalecem os laços sociais entre os participantes, que aproveitam o tempo juntos para conversar, jogar baralho e se divertir em um ambiente acolhedor. Com o sol surgindo lentamente, suas luzes refletem nas encostas da serra Tapirapuã, dando boas-vindas a mais uma quinta-feira em Nova Olímpia, a 40 km de Tangará da Serra.
O dia começa movimentado, com o som agudo das buzinas se misturando ao ruído constante de carros e motos que trafegam pelas ruas e avenidas da pequena cidade. Às 06h40, o cenário é de efervescência matinal. Alunos com mochilas a tiracolo e sorrisos no rosto atravessam a rua em direção à escola, criando uma verdadeira sinfonia de juventude e esperança. Neste pequeno município, o vai-e-vem das pessoas e veículos retrata um cotidiano vibrante, onde a passagem do tempo é marcada pelas interações e a energia dos jovens que despontam para mais um dia de aprendizado e conquistas.
Na calada da manhã, alguns pontos de ônibus revelam um grupo peculiar: idosos com cabelos brancos e peles enrugadas, cujas marcas parecem narrar longas trajetórias de vida. Cada ruga é um mapa que conta histórias de lutas e conquistas, fruto de um labor incansável ao longo dos anos.
Mas o que leva essas pessoas a se reunirem tão cedo sob o frescor do novo dia? Seus olhares, que mesclam serenidade e cansaço, revelam que a espera vai além do simples transporte. Estão ali para dar continuidade a suas histórias, que, apesar de muitas vezes silenciosas, ressoam fortemente ao coração de quem se permite ouvi-las.
Este retrato é um lembrete do valor das experiências e vivências acumuladas, trazendo à tona a importância de ouvir e aprender com aqueles que já trilharam caminhos que muitos ainda estão por percorrer. Essas histórias silenciadas são verdadeiras lições de vida, esperando para serem compartilhadas em cada parada, a cada novo dia.
No interior do ônibus, um contagiante clima de alegria toma conta dos passageiros. Sorrisos e abraços carinhosos marcam o reencontro de amigos que compartilharam tantas histórias e vivências ao longo dos anos. Este microcosmo de sabedoria e experiência da terceira idade guarda a saudade de momentos inesquecíveis.
Toda semana, eles deixam as responsabilidades de lado para embarcar em um mundo de atividades que não só estimulam a mente, mas também revitalizam o corpo, frequentemente desgastado pelo tempo. A proposta das reuniões vai muito além de um simples encontro: é uma verdadeira celebração da vida e da amizade, onde cada participante traz consigo a história de uma trajetória rica e cheia de conquistas.
Enquanto o veículo avança, risadas ecoam, ressoando como uma sinfonia de memórias. Jogos, roda de conversas e danças se entrelaçam, elevando simples encontros a verdadeiras celebrações da vida. Cada movimento se torna um ato de resistência, e cada palavra trocada é um lembrete de que, mesmo no ocaso, é possível preencher os dias com alegria e aprendizado. “A idade pode limitar o corpo, mas jamais a mente”, afirma um dos participantes, com um sorriso no rosto. Essas interações não apenas celebram a vitalidade, mas também reiteram a força do espírito humano mesmo diante das adversidades.
Diversidade se destaca em evento que exalta o brilho da cultura nordestina
Às 07h20, o ônibus destinado ao Salão do Grupo de Idosos Viver Feliz para no portão volta e, em questão de segundos, o espaço se transforma em um verdadeiro mosaico de estilos. Entre risos e conversas animadas, os nordestinos se destacam, trazendo à tona uma explosão de cores e ritmos que encantam quem os observa.
Esses homens e mulheres, que construíram suas vidas com esforço e dedicação na labuta da terra, agora se apresentam ao mundo com um orgulho silencioso, mas poderoso. A riqueza da cultura nordestina se reflete nas vestimentas vibrantes e nas expressões autênticas de quem carrega consigo as tradições de suas origens.
Este momento é mais do que uma mera exposição, é uma celebração da resiliência e da identidade que moldam o ser humano. A força que brota do chão árido da região nordestina é a mesma que impulsiona esses cidadãos a reivindicar seu espaço na sociedade, levando com eles a rica herança de sua terra natal.

FOTO: Eronildo Lucas
No ar, os sonoros acordes da sanfona, os toques vibrantes do triângulo e o ritmo envolvente da zabumba criam uma atmosfera única que convida os corpos a dançar. Os chinelos arrastados no chão de cimento batido marcam o compasso de um forró que começa timidamente, como se hesitasse em romper a reverência do momento. Porém, em questão de instantes, a alegria se impõe, preenchendo o espaço uma vez dominado pela tristeza e solidão de um cotidiano pesado. A dança se transforma numa celebração, ressignificando as dores diárias em um convite à vivência e à conexão coletiva.
Benedita Maria, 74 anos: A resiliência de uma alagoana que supera adversidades
Aos 74 anos, Benedita Maria Pereira de Oliveira exibe em seu rosto a sabedoria e a força acumuladas ao longo de uma vida repleta de desafios. Nascida em Alagoas, no coração do nordeste brasileiro e a cerca de 3.068 km de Nova Olímpia, sua trajetória reflete a de muitos que, como ela, deixaram o sertão em busca de novas oportunidades.
Desde jovem, Benedita enfrentou as dificuldades da vida com coragem e determinação. Sua história é um exemplo marcante de persistência e coragem, mostrando que, mesmo diante das adversidades, é possível encontrar um caminho e se reinventar. A experiência de Benedita ressoa com a vivência de centenas de alagoanos que, ao longo dos anos, migraram em busca de melhores condições de vida, trazendo consigo um legado de força e esperança.
A música e a cultura nordestina frequentemente ecoam em seu coração, lembrando-a de suas raízes e de como o sertão moldou sua identidade. Com uma trajetória que se entrelaça com a de muitos brasileiros, Benedita Maria é uma prova viva da harmonia entre tradição e superação.
Benedita, uma viúva de 60 anos, vive diariamente com a saudade do marido Arlindo Pereira de Oliveira, que perdeu a batalha contra um câncer agressivo. O tumor, que apareceu de forma devastadora, deixando um legado de dor e solidão na vida de Benedita.
A perda foi um capítulo difícil na vida da mulher, marcada pela tristeza e pela ausência do amor de sua vida. No entanto, em meio à dor, Benedita encontrou um novo caminho para seguir em frente. Em busca de consolo, ela decidiu retornar aos estudos, completando o primeiro, segundo e terceiro anos do ensino fundamental.
Essa busca pela educação trouxe a Benedita um novo horizonte, iluminando sua vida e ajudando a preencher o vazio deixado pela perda. Através do aprendizado, ela não apenas encontrou conhecimento, mas também reconstruiu sua autoestima e vislumbrou novas possibilidades para o futuro. O relato dela é a prova de que, mesmo diante da dor, é possível recomeçar e encontrar novos significados para a vida.
Matriarca orgulhosa de sete filhos, quatro homens e três mulheres, encontrou força em sua rotina diária, especialmente na companhia de seu neto de cinco anos. O pequeno, que enfrenta os desafios do autismo, é uma luz em sua vida, servindo como um alicerce fundamental que a mantém firme em sua jornada.
Participante ativa do grupo de idosos “Viver Feliz”, Benedita aguarda com ansiedade as quintas-feiras, dias que se transformam em momentos de alegria, risos e afeto. No salão do grupo, ela compartilha histórias e constrói novas amizades, que a ajudam a amenizar as dores das perdas que enfrentou ao longo da vida.
Embora tenha recebido proposta de casamento, Benedita optou por permanecer solteira. Para ela, viver é um ato de coragem, e sua história vai muito além das perdas é também marcada pelos laços de amor e amizade que ela cultiva a cada novo dia. Sua trajetória é um exemplo de resiliência e esperança, inspirando aqueles ao seu redor a valorizarem os momentos simples da vida.
Amor e Superação: A história de Ana Maria e Elson, um casal inspirador da Bahia
Em um lar repleto de amor e memórias, Ana Maria Silva Moreira, de 74 anos, resplandece a alegria da Bahia. Ao seu lado está Elson Rodrigues Moreira, um mineiro que traz consigo a rica cultura de sua terra natal e uma trajetória de desafios superados. Juntos, o casal celebra uma união sólida e são orgulhosos pais de cinco filhos.
Elson, um homem de presença marcante, enfrentou um grande obstáculo ao perder a visão de um dos olhos em um acidente durante a aplicação de veneno para combater cupins. No entanto, essa experiência não o impediu de brilhar em um concurso de beleza para a sua faixa etária, onde conquistou o terceiro lugar no Mister Terceira Idade. Com seu chapéu, óculos escuros e uma elegante camisa xadrez, ele é um verdadeiro exemplo de que a elegância não tem idade.
Ana Maria, com seu olhar gentil e um sorriso suave emoldurado por seus óculos, reforça a força dessa dupla. Para ambos, a vida ativa é um compromisso inabalável. Cada encontro entre eles é uma celebração da vida, um lembrete de que amor e amizade são os pilares que tornam os anos mais significativos.
A história de Ana Maria e Elson vai além das dificuldades enfrentadas; é um testamento inspirador de resiliência e amor, provando que, juntos, eles podem superar qualquer desafio.
Dona Fia: A parteira e funerária que transformou vidas em Nova Olímpia
Nos rincões da Bahia, entre calor e tradições, reside Gerosina dos Santos Tomaz, carinhosamente chamada de Dona Fia. Com um semblante sereno e olhos que transbordam sabedoria, ela compartilha suas histórias de vida, repletas de desafios e superações.
Após a perda de seu primeiro esposo, Dona Fia enfrentou um luto profundo que durou cinco anos. No entanto, seu coração, sempre em busca da luz, encontrou forças para se abrir novamente para o amor. Com resiliência, ela se tornou a primeira parteira de Nova Olímpia, dedicando 18 anos de seu trabalho ao hospital local e trazendo ao mundo inúmeras vidas.
Mas a trajetória de Gerosina não se resumiu apenas à prática de parteira. A vida a levou a abrir a primeira funerária do município, um espaço que oferece conforto e dignidade na dor da despedida. Nesse ambiente, os ecos da vida e da morte entrelaçam-se, e cada história que passou por suas mãos torna-se um capítulo valioso da rica tapeçaria da experiência humana.
Dona Fia representa a força de uma mulher que, mesmo diante das tempestades da vida, encontrou seu propósito em servir sua comunidade com amor e compaixão. Suas histórias de vida permanecem como um legado, inspirando todos ao seu redor.
Sons de um Adeus: O silêncio entre os encontros
Panelas silenciosas descansam em meio ao vazio, enquanto instrumentos que antes vibravam em harmonia são cuidadosamente guardados. A cena muda rapidamente com a chegada do ônibus, cuja sombra se projeta sobre o salão que, há pouco, pulsava com risos e alegria.
Mais um encontro chega ao fim, e a expectativa já começa a se formar para os próximos cinco dias. Uma ansiedade doce permeia o ar, como a expectativa de um reencontro querido, preenchendo a memória de momentos marcantes e prometendo novas experiências. Fica a certeza de que a vida seguirá seu ciclo, trazendo de volta a energia que faz brilhar os olhos e aquecer o coração.

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Texto: Eronildo Lucas
Locução: Gilberto Lopes
Revisão: Eronildo e Gilberto