Nos anos 90, quando ainda tinha 35 anos, a dor de Francelina Isidoria Aires da Conceição tornou-se insuportável. Ela viu-se em um abismo profundo. Apressada pelo peso das doenças e pela solidão, tentou acabar com sua própria vida. Essa tentativa de suicídio foi um grito de socorro, um pedido para que alguém percebesse o seu sofrimento. Embora tenha sobrevivido, o evento a deixou marcada, intensificando sua luta contra os fantasmas internos.
A aposentada nascida em Cáceres, Mato Grosso, desde cedo aprendeu a lidar com a dureza da vida. Moradora do bairro Tarumã, em Tangará da Serra, desde 2000, sua história é marcada por uma série de batalhas que a vida lhe impôs. Com uma educação limitada e a saúde fragilizada por uma combinação devastadora de lúpus, diabetes, pressão alta e esquizofrenia, Francelina é um símbolo da resistência em meio a um cotidiano repleto de desafios.
Hoje, aos 66 anos, ela enfrenta uma nova batalha: a dificuldade de encontrar um médico hematologista em Tangará da Serra. A escassez de profissionais na região a forçou a buscar consultas particulares em Cuiabá e Cáceres, muitas vezes tendo de viajar longas distâncias ou depender de atendimentos online. Cada ida ao médico é um esforço que vai além do físico — é um teste de resistência emocional e financeira.
Aos olhos de quem a conhece, Francelina é uma mulher simples, com o olhar cansado. O semblante marcado pelo sofrimento revela as lutas diárias, enquanto as mãos, que já trabalharam arduamente na roça, agora tremem com o efeito dos remédios. Atualmente, mora na casa de sua filha Roseli que lhe dá amparo e a auxilia em seu debilitado estado de saúde. Com o apoio de sua filha e da família, ela possui toda a assistência necessária para levar a vida mais saudável.
Nunca tendo frequentado a escola, Francelina luta não apenas contra as doenças, mas também contra a desinformação que muitas vezes a rodeia. O acesso limitado à saúde e à informação faz com que ela dependa de sua intuição e da rede de apoio do Sistema Único de Saúde (SUS). Em suas conversas, ela tenta transmitir aos netos a importância de cuidar da saúde e de buscar ajuda quando necessário, fazendo da sua experiência um alerta.
Mesmo com a tristeza que permeia sua história, Francelina é uma mulher que se recusa a ser definida apenas por suas doenças. Ela encontra força na música, nas orações e nas pequenas alegrias do cotidiano. Os risos de crianças no bairro ou o simples ato de cuidar de plantas em sua casa são momentos que trazem um respiro em meio ao caos.
Francelina Isidoria Aires da Conceição é mais do que uma sobrevivente; ela é um testemunho da força humana diante da adversidade. Sua história revela a necessidade urgente de um sistema de saúde mais acessível e sensível às demandas de pessoas como ela, que enfrentam não apenas doenças, mas a indiferença de uma sociedade que muitas vezes escolhe não enxergar as necessidades da vida humana.

Texto: Cristiano Barreto | Revisão de texto: Ana Lúcia Andruchak e Diones Krinski | Edição de texto: Beatriz Tavares